Coragens e comodismos – por Jorge Luiz Alves

Dois textos que nos obrigam a reconhecer uma prenhe urgência de movimento:

No primeiro, quando acabam nossos trunfos e descartamos coringas, ficamos sós, na mesa de jogo da vida; então, começa o principal teste da cidadania – o quanto sabemos caminhar sem o auxílio de heróis, governos e tutelas. Metade chora feito criança, quanto mais apanha mais abre o berreiro. E metade tem brio e vai à luta, criando um novo jogo, com novas regras, mas, principalmente, tendo ciência de que as consequências são as palmadas mais doloridas a serem absorvidas. As palmadas da aceitação.

E no segundo, temos (principalmente para os que optaram pela permanência) o canto dos oprimidos, dos desvalidos – os que de fato não tem de onde tirar forças para mudar, e aqueles que esperam que o céu escureça e chova bonito em seu rachado e feio chão. Os que já construíram seus alicerces e vêem certas naturezas daninhas no ofício de dizimar-lhes o pomar perfumado. Mas que também abriga aqueles que tem tutano para reconstruir seus pomares em outro canto de uma Terra generosa e imensa, conscientes de que, se não podem mudar, ainda há a opção de recomeçar. Ou então, aceitar as cores e flores de plástico dos vendilhões templários.

Boa leitura, galera!

NA VITÓRIA, NA DERROTA, NA MORAL E CORAGEM

JORGE LUIZ ALVES




Aproxima-se o instante em que, perante o imponderável, capacidades são avaliadas: adeus às bolsas, tolerância zero com as cotas, navalhada na goela do trabalhismo com a cega lâmina das terceirizações rasgando páginas sagradas da CLT, fim da Lei Rouanet, lobotomização da juventude com o desestímulo oficial ao ensino da História e Sociologia, e a pena de morte com a fuzilante Reforma Previdenciária… Chegou o momento em que somos provados no fragor da disputa: morrer, todos vamos; resta saber COMO MORREREMOS, se de pé ou de joelhos. Uma lição que trago desde antes da requintada crueldade germânica ante os pirralhos que queriam ser adultos apenas envergando um manto vitorioso do passado. Quem fugiu, fugiu. Mas, quem fica, tem que mostrar colhões arroxeados para inspirar gerações futuras com a imagem do destemor. Aproxima-se o instante que todos esperávamos, desde a última Copa do Mundo: já sabíamos da poderosa Alemanha que viria por aí, com jogadores desonestos escalados por nós mesmos nos pleitos quadrienais, ávidos por massacrar-nos em nosso próprio Mineirão após as seguidas vitórias do escrete popular. Eles – os janotas burgueses da Teutônia Elitista – aguentaram por uma década as porradas. Agora, é a hora de mostrar quem tem peito de suportar a goleada, e dar, futuramente, a volta por cima. E sem chorar feito covarde por heróis abatidos ou ausentes… 



                                                 AS BOAS INTENÇÕES
JORGE LUIZ ALVES

(Tela de Eduardo Lima, “Caminho das Flores)

É tão lindo… lembra um pouco o rap de sucesso nos anos noventa, sobre o orgulho da favela-em-que-nasci, poder me orgulhar da minha posição na Casta Brasilis, ao gosto do freguês – se um bramanismo ou um feudalismo – , ter a consciência que o “pobre tem seu lugar”… Historizando: no final do século XV, os mui sereníssimos monarcas ibéricos sentaram-se à mesa do Papa a fim de repartir, tordesilhamente, o planeta Terra entre portugueses e espanhóis, deixando a Cristandade européia restante de fora da brincadeira, e ignorando solenemente as demais partes do globo. Mais ou menos como acontece no Brasil Temerário de hoje: as medidas outorgadas pelos rapinantes visam inculcar, de forma lenta, gradual e segura, o lugar das castas populescas na Brasiléia Encantada – longe do petróleo, das reservas aquíferas, das melhores terras produtivas, das reservas econômicas, do controle dos setores estratégicos, do acesso à dignidade. É tão lindo! Uma “pobreza-de-chita-e-sandália”, é o que nossos “sinhozinhos trimilênicos” nos prepara; de contrato temporário um atrás do outro, bloqueando-nos o acesso ao conhecimento acadêmico com a bestificação do ensino médio, vetando investimentos na área da educação e saúde por vinte anos, e ameaçando dar porrada de volta, caso façamos cara feia… pôxa! Quanta ingratidão! Será que não percebemos as nobres intenções do Lord Vlad Tepes, o Empalador?! Eles só querem o nosso sangue, nosso couro, nossa dignidade. Querem que vivamos um comercial de margarina mas com cores e fundo de Caatinga e Agreste, só isso… 

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